Assédio moral no ambiente profissional compromete a saúde

As inúmeras exigências do estilo de vida atual, marcado pela pressa e pelo consumo, ocasionam a gradual precarização das relações de trabalho. Nesse contexto, agressões psicológicas são praticadas nas empresas e repartições e, muitas vezes, as vítimas não se dão conta delas, permanecendo expostas a um ambiente hostil, que compromete a saúde.

De acordo com a psicóloga forense do trabalho Glaucia Amaral, o assédio moral “caracteriza-se pela exposição dos trabalhadores a situações humilhantes, repetidas durante a jornada de trabalho, que acarretam prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização” – afirma. O assédio pressupõe intencionalidade – como, por exemplo, o objetivo de forçar o outro a deixar o emprego -, direcionamento – quando uma ou mais pessoas são escolhidas como “bode expiatório” -, e insistência na agressividade, com degradação deliberada das condições de trabalho.

A psicóloga ressalta que ambientes estressantes são terrenos férteis para a prática do assédio moral. “A situação evolui quando a vítima percebe a má intenção de que é objeto e as críticas a seu trabalho se tornam maldosas e as palavras, injuriosas” – explica. Ela alerta que o assédio moral deixa marcas psicológicas na vítima, porém os levantamentos sobre o assunto no país não fornecem números muito confiáveis. “Quase não há estatísticas sobre assédio moral no Brasil, porque isso só seria possível de duas maneiras: se os sindicatos de classe tivessem atendimento psicológico que fornecesse resultados reais ou se as empresas compartilhassem informações coletadas pelo setor de Recursos Humanos – o que não é de interesse delas” – comenta.

Apesar da dificuldade em comprovar a agressão, porque vítimas e testemunhas têm medo de perder o emprego, o assédio moral é crime e gera até dois anos de reclusão. Provas de assédio moral costumam ser testemunhais, mas podem ser feitas por meio da apresentação de e-mails, atas de reunião, fichas de acompanhamento de desempenho ou gravações que comprovem a agressão. A gravação de uma conversa não é crime e pode ser uma prova legítima em alguns tribunais.

Assédio moral no funcionalismo público

A Câmara de Catanduva criou uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para apurar um possível caso de assédio moral na Secretaria de Assistência Social. Ele veio a público em março, quando a assistente social Patrícia Rocha de Souza Rodrigues faleceu devido a um acidente vascular cerebral (AVC) e sua mãe, Aparecida Rocha de Souza, responsabilizou a secretária da pasta, Carmen Pizarro, pelo ocorrido. Segundo Aparecida, Patrícia reclamava havia duas semanas da forma como era tratada pela chefa. As colegas, inclusive, alertaram a assistente social sobre uma possível exoneração.

Para o vereador Amarildo Davoli (PT), que propôs a CEI, o assunto põe em dúvida a credibilidade do poder público. “Se há assédio, deve ser punido; se for calúnia, deve ser reparada” – afirma. Em abril, o vereador Wilson Paraná (PT) pediu, ao Executivo, a abertura de uma sindicância para investigar a prática de assédio moral no Centro de Saúde Dr. José Perri, o “Postão”. Segundo ele, os funcionários da unidade de saúde afirmam sofrer humilhações e ameaças; alguns deles já teriam pedido transferência e aposentadoria antecipada por não suportar os abusos da chefia. Paraná também cogita a hipótese da formação de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar o caso.

Um bancário conta as humilhações de que foi vítima


Um bancário de Catanduva, que não quer se identificar para não sofrer represálias, afirma ser vítima de assédio moral há cerca de um ano. Segundo ele, as perseguições começaram quando ele questionou as posturas adotadas pelos gestores, que ferem direitos conquistados pela categoria. “Passaram a chamar minha atenção na frente de colegas e clientes quase diariamente, causando situações constrangedoras. Parece que há um complô orquestrado para manchar minha imagem” – afirma.

A agressão se refletiu na saúde do trabalhador, que desenvolveu pressão alta, tem falta de ar e tremor – sintomas de transtornos psicológicos causados pela ansiedade. Outro fator que motiva o assédio moral nos bancos é a pressão para o cumprimento de metas abusivas, já que os números atingidos pelos bancários determinam, muitas vezes, o valor que vai para os bolsos de seus superiores.

O presidente do Sindicato dos Bancários de Catanduva e Região, Roberto Carlos Vicentim, afirma que as vítimas de assédio moral devem levar os problemas aos sindicatos, que têm a obrigação de defender os trabalhadores e preservá-los, mantendo o anonimato. “Quando um caso chega ao Sindicato, nós apuramos e, comprovado o abuso, exigimos uma atitude radical do banco. Desta forma, já garantimos que vários assediadores fossem afastados ou desligados” – afirma.

Fonte: Revista Proteção