Muitas vezes, engenheiros e mestres de obras coordenam pessoas sem ter tido formação para isso. Veja o que é importante para ser um bom líder de equipes de trabalho

reportagem: Juliana Nakamura
Pini Web – www.equipedeobra.com.br - Senai

Em um canteiro, o gestor de equipes atua de forma parecida com um maestro ou técnico de time de futebol, organizando o trabalho, liderando e motivando o pessoal. Engenheiros, mestres de obras e encarregados desempenham esse papel em parceria. Só que quase sempre realizam essa função sem ter recebido formação para isso. Cursos para mestres e até mesmo a faculdade de engenharia se dedicam a ensinar aspectos técnicos, e não temas relacionados às relações humanas. Os gestores acabam aprendendo, na prática, por meio de erros e acertos, a lidar com pessoas e gerenciar conflitos.

Nem sempre é fácil coordenar pessoas que têm pensamentos, valores e experiências de vida diferentes. "O maior desafio é fazer com que toda a equipe tenha o mesmo objetivo e que cada um entenda sua importância. Ou seja, saber administrar conflitos, escutar, se colocar no lugar do outro, respeitar as individualidades, aceitar pontos de vista diferentes e zelar e auxiliar o colaborador na busca por crescimento, não perdendo de vista as metas", diz a consultora em desenvolvimento humano Verbena Lima, que ministra o curso de Liderança em Gestão de Pessoas no Sindicato da Indústria da Construção da Bahia (Sinduscon-BA). A falta de gestão eficiente pode levar a equipe, num primeiro momento, a não atingir resultados esperados. Mais além, "a falta de engajamento e a insatisfação da equipe podem levar a empresa a correr riscos desnecessários", alerta Verbena. Numa época marcada pela falta de mão de obra qualificada, o trabalho do gestor é ainda mais importante para ajudar a reter talentos e extrair o potencial dos colaboradores. Ao estimular boas práticas, ele garante qualidade aos serviços, reduz desperdícios, eleva a segurança, diminui a rotatividade de profissionais e aumenta a produtividade.
Foto: Marcelo Scandaroli 
Para liderar bem uma equipe, o engenheiro ou mestre de obras tem que conhecer muito bem o trabalho que é realizado pelos seus subordinados, além de liderar sempre pelo exemplo

DEZ DICAS PRÁTICAS PARA GERENCIAR PESSOAS
Foto: Mrcelo Scandaroli
  • Pratique e incentive atitudes otimistas e entusiasmadas das pessoas
  • Comporte-se de forma coerente com os valores defendidos. Dê o exemplo
  • Pense coletivamente. Nunca deixe sua equipe sozinha
  • Comemore as realizações da equipe. Reconheça os bons resultados
  • Permita a tomada de decisões de forma participativa
  • Seja equilibrado e justo. Tome decisões baseado em fatos
  • Diante de problemas, não saia imediatamente atrás de culpados. É mais importante saber o quê aconteceu e como resolver
  • Elogie em público; chame a atenção em particular
  • Use a honestidade total, sob qualquer circunstância; e conceda confiança
  • Pratique e incentive os quatro Cs: Comunicação, Cooperação, Colaboração e Comprometimento


CARACTERÍSTICAS DO GESTOR DE EQUIPES

Atividades e habilidades
O gestor zela pela qualidade, monta escalas de trabalho, define prioridades, integra e orienta novos funcionários e ajuda a desenvolver habilidades pessoais etc. Também tem papel fundamental para manter o moral da equipe elevado, proteger a saúde e proporcionar condições adequadas de trabalho. Para isso, é preciso mais que conhecimento técnico, são necessárias habilidades humanas. É preciso ser equilibrado, saber ouvir e considerar opiniões divergentes. É fundamental passar segurança à equipe e resolver problemas de forma justa e competente. Para Verbena, o bom gestor, seja engenheiro ou mestre, deve ter, acima de tudo, visão sistêmica. Ou seja, compreender, por exemplo, como os sistemas de produção se relacionam com o meio ambiente e as pessoas. 

Formação e competência
Conhecimento técnico e sólida formação são importantes para o gestor. Além disso, conhecer a fundo os processos de execução e as práticas da empresa é fundamental. Sem isso, fica difícil ter autoridade para orientar a equipe.
Nem sempre o preparo técnico garante a liderança competente. "É possível ser um bom líder sem ter formação acadêmica (formal). Nesse caso, a relevância está no carisma e na capacidade de dimensionar e integrar recursos físicos, humanos e financeiros, otimizando o fluxo de informação no canteiro", afirma Verbena.

Liderança
O profissional precisa ter perfil de liderança e influenciar pessoas, o que não significa ser mandão ou autoritário. "O bom líder considera os funcionários parceiros e gera neles adesão aos objetivos, política e missão da organização", afirma o consultor Márcio Silva, professor do curso de pós-graduação do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade Industrial (ICTQ). "O líder deve se identificar com a visão da empresa e gostar do que faz. Só assim passará confiança aos parceiros e fará com que gostem do que fazem e sigam os rumos da empresa", complementa Silva.

Comunicação
O líder deve saber expor objetivos e metas de forma clara para que as pessoas entendam e aceitem o que é delegado. Os consultores afirmam: o bom comunicador não é aquele que fala muito, nem o que fala para as pessoas sem dar chance de resposta, mas quem estabelece conversas, utiliza o tom de voz adequado à situação e, principalmente, se comporta de forma coerente com o que diz. Ou seja, é quem faz o que diz, liderando pelo exemplo.

Feedback
Instrumento importante na gestão é o feedback (em português, retorno), que nada mais é do que informar as pessoas sobre seu desempenho e sua conduta. O feedback ajuda a equipe a compreender o que está fazendo bem, onde está falhando e como melhorar. Não se trata apenas de repreender, mas de conduzir as pessoas na direção certa. O líder que aplica corretamente essa técnica ganha o respeito dos liderados e, consequentemente, amplia a produtividade. Rogério Martins, presidente da Persona Consultoria, explica que o feedback pode ser positivo ou corretivo. "Quem somente aplica feedback corretivo é tido como tirano, carrasco e perseguidor. Seu oposto é conhecido como paizão ou o bonzinho", diz. A dica dele é intercalar de forma inteligente os dois tipos de feedback para garantir a saúde da equipe, além de demonstrar justiça e credibilidade.