I.
INTRODUÇÃO:
Nesse
estudo abordaremos primeiro as características do estresse e suas manifestações
físicas e /ou psíquicas, para posteriormente fazermos considerações sobre ações
de prevenção no ambiente de trabalho.
Apesar
da evolução tecnológica dos processos produtivos e da comunicação (e seu
processamento), ainda existe falta de tempo para que os empregados possam
acompanhar os novos desafios relacionados aos negócios. A complexidade das
relações de trabalho, a exigência de recursos financeiros e humanos dentro das
corporações para evolução e desenvolvimento dos processos tem gerado certa
competitividade no ambiente de trabalho que por sua vez tem trazido conflitos
de ordem interpessoal elevando de sobremaneira o estresse organizacional. Essa
situação leva a formação de subgrupos com pequenas e grandes diferenças de
conduta e comportamento entre eles. Assim diante de condições gerais
semelhantes, os grupos se organizam e se posicionam e atuam de forma diversa ao
mesmo estímulo. Então o desafio começa na criação de uma estratégia que seja
efetiva na abordagem de todos esses grupos no sentido de minimizar diferenças e
padronizar procedimentos para que o projeto final dê resultado positivo para
que a organização não venha a fracassar. Os indivíduos não devem lutar para
adaptarem-se as normas e cultura da empresa para que não produzam em si,
padrões eletroquímicos capazes de levar a impacto físico e mental gerando o
estresse. Eles devem ser cativados pela empresa no processo de adaptação
progressiva, contínua e permanente que os façam entender e reconhecer a
importância do papel que exercem dentro do escopo do negócio desenvolvido pela
Organização. É um investimento que a empresa deve fazer sobre os empregados,
que são seus clientes internos, para que a manutenção do convívio harmonioso no
local de trabalho gere bem –estar, satisfação e equilíbrio da produtividade coletiva.
II.
CONCEITO:
O
termo estresse deriva da engenharia e representa a capacidade de um objeto em
resistir à deformação pela aplicação de uma força externa.
O
estresse é conceituado como um conjunto de reações do corpo e da mente, em
resposta aos mais variados estímulos, propiciando o aparecimento de um padrão
definido de respostas eletroquímicas capazes de causar a quebra da homeostase,
levando ao aparecimento de doenças físicas e mentais. Assim, estresse nada mais
é do que a resposta a um ataque, onde o agente agressor é superior às forças do
demandado.
O
estresse é uma síndrome geral de adaptação, com uma resposta inespecífica e
generalizada.
A facilidade com
que o vocábulo é utilizado tende a esvaziar a importância do seu conteúdo.
Ainda existe muito preconceito em relação a admitir o estresse como doença,
pois, ele é frequentemente considerado “frescura”.
III.
TIPOS DE ESTRESSE:
Estresse:
essa palavra que já faz parte do vocabulário popular e é sentida como um agente
pejorativo capaz de produzir efeitos nocivos para o ser humano, mas que na
prática não é sempre assim, pois temos dois tipos de estresse o positivo e o negativo.
Entendido os
efeitos do estresse no nosso corpo vale agora exemplificarmos formas de
estresse positivo: atleta numa competição, em que ele vai além dos limites do
corpo e da mente em busca da conquista da medalha e do reconhecimento social.
Outra situação de estresse positivo é quando nos dedicamos a um trabalho de
maneira intensa e que ao término dele sentimo-nos recompensados quando é
reconhecido o nosso valor em competência e capacidade. O estresse positivo é
denominado de EUSTRESSE.
O estresse
negativo é chamado de DISTRESSE e é
reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como doença. Como exemplo
de distresse temos a presença dos chamados agentes estressores: ritmo de
trabalho intenso, diminuição de pessoal, redução da criatividade, uso e
práticas reiteradas sem a compreensão delas, multifuncionalidade, tarefas
complexas, falta de autonomia para execução do trabalho, faltam perspectivas de
crescimento na empresa, clima organizacional ruim, ausência de qualificação e
de finalidade do trabalho, entrega de trabalhos a curto prazo, inexistência de
conhecimento adequado da tarefa, falta de apoio de colegas e gestores no desempenho do trabalho, situações
que exigem forças superiores aquelas demandadas pelo empregado, o modo pelo
qual é gerido processos de modificação e transformação no âmbito da empresa, dentre
outros. Esses fatores inclusive, possuem forte correlação com altos níveis de
absenteísmo dentro da Companhia.
Lipp (1996),
classifica os agentes estressores de forma diferente, a saber:
a)
biogênicos
ou automaticamente estressantes: frio, calor, sensação de fome, dor, sede
b)
psicossociais:
relacionados a história de vida do indivíduo
c)
externos:
resultam de eventos e condições externas que afetam o organismo.Exemplo:
iluminação, temperatura, higiene, espaço físico para o trabalho,trabalhos em
turnos e noturno.
d)
internos:
são determinados pelo indivíduo
Seward
(1990), agrupa os agentes estressores ocupacionais em cinco categorias:
a)
fatores
da organização e relações organizacionais
b)
aqueles
relacionados coma carreira profissional
c)
os
de característica individual
d)
fatores
relacionados à atividade de trabalho
e)
fatores
do ambiente de trabalho e de outras condições laborais
O distresse não
tem só impacto sobre os indivíduos, mas também sobre a empresa e a sociedade,
pois ele gera prejuízos financeiros ao negócio desenvolvido e também a
Previdência Social, pois não raro leva ao agravamento de doenças pré-existentes
e ao aparecimento de novas patologias que acabam por produzir afastamento do
posto de trabalho. Estudos comprovam a relação do distresse com a ocorrência de
doença cardíaca, doenças de pele, gastrintestinais, neurológicas, situações
ligadas a distúrbios do sistema imunológico e outras. As mudanças são mais
intensas e marcantes quando os indivíduos ficam expostos por período de tempo prolongado
levando a um maior desgaste das estruturas físicas e psíquicas. Selye (1936), admite
que essas alterações poderiam estar pré-determinadas genética e
constitucionalmente. Com isso, podemos suspeitar que certos indivíduos estariam
mais susceptíveis a apresentar essas anormalidades mais do que a população em
geral. Cabral et al. (1997), chama de estressor qualquer situação que seja
capaz de causar hiperfunção da supra-renal e do sistema nervoso autônomo
simpático causando impacto de ordem orgânica ou mental nos seres humanos. As
respostas iniciais aos agentes estressores podem ser consideradas fisiológicas,
porque elas visam adaptar o indivíduo a nova situação, entretanto, elas só
passam a ser consideradas nocivas quando se prolongam por um tempo acima do
esperado. O estado de estresse está então relacionado com a resposta de adaptação
e em doses adequadas, pode ser um fator de motivação (traz ânimo e garra).
Baixos níveis de estresse, por exemplo, podem gerar tédio e dispersão.
O estresse
acontece porque os processos de trabalho não levam em consideração as
características individuais dos trabalhadores. Essas diferenças se fazem em
termos de elementos psicológicos e fatores cognitivos. As exigências demandadas
excedem aos recursos disponíveis e as capacidades de resposta do demandado. A
sobrecarga pode aparecer de forma quantitativa ou qualitativa (atividade
monótona ou repetitiva).
Vieira &
Sobrinho (1996), atribuem a certos tipos de comportamento a suscetibilidade em
desenvolver estresse:
§ impetuosidade
verbal
§ impaciência e
movimentação frequente
§ alta
competitividade
§ fazer várias
coisas ao mesmo tempo
§ programa muitos
compromissos em pouco tempo
Levi (1984) e
Davidson & Earnshow (1991), relatam o encontro de grupos de trabalho mais
vulneráveis ao estresse, são eles: trabalhadores jovens, idosos, emigrantes,
com deficiências e mulheres.
IV.
IMPACTO SOCIAL
DO ESTRESSE:
Como exemplo de
impacto do distresse, na economia americana temos índices da ordem de 200 a 300
bilhões de dólares ao ano de custo direto e indireto conseqüente a presença dele
(Masci, 1997). Nos EUA, estima-se que 60 a 80% dos seus acidentes de trabalho,
relacionam-se com o estresse, idem em relação às doenças que causaram morte
nesse país no ano de 1997. No Reino Unido cerca de 30 milhões de dias de
trabalho são perdidos por conta do distresse. No Japão estima-se que cerca de
30 mil trabalhadores morrem por ano por excesso de trabalho. Na União Européia
o estresse é o segundo problema de saúde mais comum relacionado à profissão, em
primeiro lugar estão as dores lombares.
No Brasil, o
Centro Psicológico de Controle do Stress (Campinas), mostrou que cerca de 70%
dos que procuram atendimento médico pertencem à área gerencial (Lipp, 2005). As
classes mais atingidas pelo estresse no Brasil são os bancários, professores e
os policiais militares.
O estresse pode
afetar qualquer um de nós, independente do tipo de função que é executada. Estão
menos vulneráveis a ele as pessoas que são propensas às mudanças, as mais
tolerantes e aquelas que estão muito comprometidas com o que fazem. É por isso
que hoje as empresas, têm a preocupação de investir em programas de qualidade
de vida no trabalho (QVT). Esses programas, normalmente possuem um aspecto
relacionado com ergonomia oganizacional e outro com ações de promoção e
prevenção de saúde (parte de intervenção médica).
O mercado de
trabalho aponta como uma das qualidades dos excelentes profissionais a
capacidade de absorver o estresse.
Já ficou provado
que o nível de estresse é maior nas mulheres do que nos homens.
V.
CLÍNICA:
O estudo da
fisiopatologia do estresse será capaz de avaliar o quanto as modificações
manifestadas no corpo podem ser consideradas defesa contra o agente agressor ou
sintomas de lesão.
Os sintomas
iniciais do estresse são comuns a todos os indivíduos: taquicardia, sudorese
exagerada, tensão muscular, estado de alerta e boca seca. Só depois as reações
se diferenciam, conforme a genética de cada um em acidentes ou doenças
(Lipp,1998).
O
estresse leva ao aparecimento de uma síndrome (porque ele tem etiologia
multifatorial, mas produz um conjunto de sinais e sintomas que podem inclusive
ser comuns a várias doenças, mas que não são conseqüentes a elas). A síndrome
se caracteriza por fases sendo difícil diagnóstico e tratamento. São elas:
a)
fase
de alerta
Entra-se em
contato com o agente agressor e o organismo se prepara para a “luta” ou “fuga”
(Cannon,1939). Essa fase termina algumas horas após a eliminação da adrenalina
e a restauração da homeostase (estressor de curta duração). Pronto
restabelecimento do organismo sem danos se a pessoa souber lidar com o
estresse. A fase de alerta pode aumentar a produtividade em função da motivação,
entusiasmo e da energia que essa fase favorece. Entretanto, essa etapa não pode
ser muito duradoura para não causar lesão. Tem –se nessa fase a ativação do
sistema nervoso simpático e da medula da supra-renal (liberação da adrenalina).
b)
fase
de resistência
Ação reparadora
do organismo com intuito de restabelecer o equilíbrio interno resistindo ao
agressor que permanece. Fase em que se utiliza toda a energia adaptativa para
se reequilibrar. Quando o indivíduo consegue, os sintomas iniciais desaparecem
e a pessoa tem a sensação de melhora.
Fase onde ocorre
sensação de desgaste generalizado e dificuldade de memória. As pessoas ficam
mais susceptíveis ao aparecimento de doenças (herpes simples, psoríase, picos
hipertensivos e aparecimento de diabetes nos indivíduos geneticamente
predispostos)
A medula da
supra-renal diminui a produção de adrenalina e o córtex aumenta a produção de glicocorticóide.
Se essa fase não
for muito longa e o organismo tiver uma boa resposta compensadora o indivíduo
sai do estresse sem seqüela.
c)
fase
de quase-exaustão
Fase
recém descoberta que se caracteriza por alterações da pressão arterial,
tonteiras, aparecimento de infecções respiratórias, redução da libido, entre
outras alterações.
d)
fase
de exaustão propriamente dita (esgotamento)
Fase mais
crítica do estresse, que ocorre por manutenção prolongada agente agressor ou
por falha do mecanismo de adaptação. Nessa fase, pode ocorrer aumento da
glicose e do colesterol. Temos ainda: transtornos do sono, aumento da
ansiedade, possibilidade da ocorrência de depressão, inabilidade para tomar
decisões, vontade de fugir de tudo, queda de cabelo, infecções de repetição,
dificuldade de manter a atenção e concentração, baixa da auto –estima, maior
irritabilidade e menor tolerância e paciência.
Em relação às
alterações do sistema imunológico parecem que elas estão correlacionadas com
ativação do sistema nervoso central, com a resposta hormonal e ainda por
mudanças comportamentais. Situações de curta duração (estressores agudos),
parecem ter ações predominantemente estimuladoras sobre o sistema imunológico, principalmente
sobre o linfócito T. Já as exposições de longa duração aos agentes estressores
levam a diminuição de diversos parâmetros imunológicos (Segerstrom &
Miller,2004).
Outros Fatores
identificados: comportamento marcado pela pressa, agressividade, melancolia,
queda da produtividade e dificuldade de relação interpessoal com o grupo de
trabalho (tendência ao isolamento ou agressividade). Perdurando o estressor
ainda pode ser observado aumento das estruturas linfáticas.
O estresse pode
induzir ao uso de álcool, tabaco, drogas de maneira indiscriminada.
As dificuldades relatadas
acima se manifestam com freqüência no trabalho e também no âmbito familiar.
OBS: durante o
aparecimento do estresse temos a liberação de outros hormônios, tais como: GH,
TSH, hormônios sexuais, vasopressina e prolactina (Fink,2000).
A resposta ao
estresse depende das características do indivíduo, da sua inteligência
emocional, da capacidade de lidar com situações difíceis e não programadas.
Exigindo uma certa flexibilidade.
*Síndrome
do Burnout:
Ocorre em função
de um desgaste ocupacional crônico e acaba por causar desinteresse pelo
trabalho.
Qualquer
trabalhador pode apresentar Burnout, mas é mais comum entre gerentes, líderes, chefes,
etc... Frequente na área de saúde, na educação, atendentes públicos,etc....
Caracterizada
por forte tensão emocional crônica, acompanhada por baixa da auto- estima,
estafa, diminuição da produtividade.
Observa-se no
acometido, adoção de atitude de frieza com todas as pessoas, além de perda da
memória, alterações do humor, cansaço permanente, alterações gastrintestinais,
cefaléia, sentimentos de frustração mialgia e dores nas costas.
VI.
TRATAMENTO E
PREVENÇÃO:
A abordagem
adequada do estresse requer multidisciplinaridade, ou seja, ação conjunta das
áreas médica, da psicologia, recursos humanos das empresas, do melhor preparo
das lideranças, da assistência social privada e governamental, assim como de
estrutura familiar satisfatória, visto que o ser humano é um ser social e
holístico. E, considerando que ele é único e que não deixa nenhuma de suas
partes para fora da porta quando entra no seu trabalho, sendo a recíproca
verdadeira em relação ao seu retorno ao lar, não cabe só tratar dos problemas
que o atingem no ambiente laborativo, pois para existir efetividade adequada, nesse
caso, exige-se um esforço maior, para que ocorra de fato, uma transformação
positiva no estilo de vida do funcionário. Não se trata de interferir na
privacidade dos trabalhadores e no seu direito de escolha, apenas torná-los
mais esclarecidos (por meio de palestras e treinamentos) para que adotem um
estilo de vida mais saudável.
A prevenção do
estresse é feita sobre dois âmbitos o do indivíduo e o da organização. Em
relação ao indivíduo é necessário que ocorra equilíbrio entre trabalho, lazer e
repouso. A empresa deve favorecer relações interpessoais amistosas, capacitação
e treinamento de todos os empregados, na medida do possível deve propiciar a
instituição de pausas para recomposição orgânica, a organização do trabalho
deve permitir maior autonomia sobre a tarefa, equilíbrio entre número de
empregados e ritmo de trabalho, permissão do uso da criatividade e de regulação
das demandas quando o processo permitir,deve incluir apoio da equipe por
supervisores, líderes ou gerência direta. O importante é que ocorra equiparação
correspondente entre esforço e recompensa. A desmotivação ocorre quando o
trabalhador fica aquém ou além da sua capacidade produtiva.
Fazer
mapeamento dos agentes estressores no ambiente de trabalho, iniciar pesquisa de
campo por meio de entrevistas com os trabalhadores, procurando inclusive
verificar a percepção deles em relação à tarefa que executam e as reações que
adotam durante a realização das mesmas. Depois criar mecanismos de controle da
exposição aos fatores de risco para poder intervir de maneira satisfatória na
organização do trabalho.
Por
fim orientar o trabalhador por meio de programas preventivos e assistenciais
para que ele tenha melhor qualidade de vida e bem-estar.
A
empresa sempre se beneficia quando cuida adequadamente do seu cliente interno:
aumento da produtividade, reduz o absenteísmo, diminui custos médicos, tem-se
menor rotatividade na mão -de – obra, menos pessoas são encaminhadas para a
Previdência Social e menos custos com ações trabalhistas.
VII.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS:
O valor que a
organização dá a preservação das pessoas (bem mais precioso), reflete o grau de
cultura e maturidade da mesma. Os trabalhadores precisam valorizar cada aspecto
das suas vidas com entusiasmo, vislumbrando as oportunidades e perspectivas.
Trabalho é realização profissional, subsistência e reconhecimento social.
Créditos para a Autora:
Dra. Monica Pinheiro - Médica do Trabalho , Ergonomista e Bacharel em Direito.
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